segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

acorda-me se não te ouvir chegar...

“Sou mais de abraços que cumprimentos. Adoro um beijo quando já não conto recebê-lo. Procuro uma mão no cansaço do sono para sentir que não estou só. Acordo quase sempre sem vontade de voltar a adormecer. O amor tem para mim algo de relógio como de abrigo. Sorrio quando o sinto junto a mim, e procuro distrair-me quando não o tenho por perto. A separação sempre me desagradou no amor. Sou mais do género de vivê-lo à flor da pele, de ficar com ele. Sou um romântico de berço. Cresci para me enroscar nos braços de alguém. Não tenho dúvidas de que vou morrer com um sorriso de amor estampado no rosto.”

                          José Micard Teixeira

segunda-feira, 7 de março de 2011

do porquê dos homens nos não compreenderem...


Tu estás convencida há vários anos de que eu não te compreendo. Esta é sempre a teoria das mulheres, que não são compreendidas, que não são queridas, que não são adoradas, as queixas montanhas grandes, queixas enormes, sempre a justificar uma infelicidade que lhes vem lá do fundo da criação do mundo, do útero, da terra, as mulheres reflectem o útero feminino da terra, um útero cheio de aflições, em conclusão, queixam-se de tudo então entre os quarenta e os cinquenta, esse útero funciona nas alturas, é um útero cósmico que já não é parte de uma mulher, pertence à mulher do mundo. Há muita verdade no que dizes, o homem desinteressa-se facilmente, depois do acto do amor, depois logo sacode as penas, arrebita, passa à frente, domina outro mundo, a mulher fica fechada, acanhada nesse encontro muito íntimo, nesse seu mais fundo dos fundos, na identidade uterina com a ideia da criação, da reprodução da génese, salta, salta, forma-se na mulher a visão do caos a que só ela pelo amor pode dar uma nova regra, pelo domínio da paixão, pela companhia, para isso tem de ser compreendida, ela julga que é compreendida, tem de justificar a sua infelicidade pela compreensão do amor, de um outro amor, a mulher busca no outro amor o amor definitivo, amor que nunca aparece, é o poder fantásmico de convicção, que rompe todas as barreiras, a mulher atira-se, não sabe onde nem como, é capaz dos maiores actos de heroísmo clandestino, aparece, vai, surge, abre-se, mostra o que é o amor, a sua entrega total. 

Ruben A., in 'Silêncio para 4'